Como todos sabem, violência doméstica (Artigo 5º da Lei 11.304/2006) e maus tratos contra cães e gatos (Artigo 32 da Lei 9.605/1998), são crimes. O que muitos não sabem, é a relação entre esses dois crimes.
Segundo estudos, a maioria dos casos de violência contra grupos vulneráveis, como mulheres, crianças e idosos, acontecem no interior dos lares. E a partir disso, devemos considerar os atuais conceitos de família, como as famílias multiespécie.
Essa interação humano-animal implica não só em relações positivas, que promovem saúde e bem-estar, mas também, podem surgir interações negativas, como nos casos de maus-tratos aos animais e violência doméstica.
Ao longo da história, diversos estudos vêm apontando que os maus-tratos contra animais não são fatores isolados na sociedade, e sim indícios de problemas no núcleo familiar, uma vez que existe uma conexão entre a violência doméstica, o abuso infantil e a crueldade animal.
Pesquisas indicam que 27,1% de adultos que, na idade infantil, sofreram violência doméstica foram também responsáveis por maus-tratos aos animais. (McEwen et al., 2014). E 50% das mulheres que sofreram violência doméstica relataram que seus agressores também haviam sido violentos com animais. (Padilha, 2011), e mais, 93% dos agressores de animais possuem histórico de cometerem outras infrações penais. ( Levitt et al., 2016).
Conclui-se que as agressões aos animais não surgem isoladamente. A violência contra o animal é reconhecida como um sinal de problema no ambiente familiar, sendo alerta de ocorrência de violência doméstica. Os maus-tratos aos animais estão, intimamente, relacionados com a violência interpessoal humana, predominante no contexto familiar e direcionada contra crianças, jovens, idosos e mulheres.
Muita gente já presenciou ou, ao menos, ouviu uma situação de violência, e ao contrário do que diz o ditado popular, em briga de marido e mulher, se mete a colher, principalmente, se um indivíduo ainda mais vulnerável for atingido!
Segundo estudos, muitas mulheres que sofrem de violência doméstica, ainda são obrigadas a ver seu agressor atacando seus animais de estimação. Isso ocorre com tanta frequência que possui nome: trata-se da Teoria do Elo ou Teoria do Ciclo da Violência. “A agressão ao animal de estimação é, também, uma estratégia utilizada pelo agressor, pois, frequentemente, com essas atitudes, as vítimas se retraem ou se submetem, para não verem seus animais vitimados pelo agressor”, indica.
Esse “elo” se caracteriza pelo abuso dirigido ao pet como parte de uma dinâmica familiar de violência, que contribui para submeter as outras pessoas mais vulneráveis a um ambiente de medo e submissão.
Esses estudos demonstram tamanha importância de se rever o papel dos animais de estimação para além de “membros da família”, como parte de um processo de sentinela à violência contra mulheres, que se constitui como um grande problema social e de saúde pública no Brasil.
